A democracia, que idealmente é o poder do povo, é um sistema político em que os eleitores escolhem, directamente ou através de representantes eleitos, a(s) pessoa(s) que os governa(m) durante um período de tempo.
Por Pedrowski Teca
Adicionalmente, as pessoas elegíveis, isto é, as que reúnem os requisitos necessários previamente estabelecidos, têm o direito de participação igualitária em eleições que devem ser justas, livres e transparentes.
Porém, os princípios democráticos são deturpados em vários países e organizações.
Em Angola, a democracia é praticamente inexistente na maioria dos partidos políticos conservadores que, na alegada defesa dos princípios e valores pilares das suas organizações, executam aquilo que chamam de “democracia orientada”.
Nos estatutos desses partidos políticos, que se dizem democráticos, não existem limitações de mandatos à sua presidência, algo que deve ser extinto e adequado à Constituição da República de Angola.
A “democracia orientada” está assente não somente na garantia da “continuidade”, como também na defesa de interesses políticos e económicos de elites criadas, capazes de tudo para a manutenção do poder. Isto não é democracia, mas sim “estomagocracia”, que é o poder do estômago.
Consequentemente, as eleições são fachadas e com resultados previamente determinados. Conforme se diz: “Não conta quem vota… conta quem conta (e anuncia) o voto”.
Neste tipo de “democracia de faz-de-conta”, independentemente dos procedimentos públicos e perfeitamente apresentados, é nula a intervenção directa dos cidadãos no sistema de escolha de seus representantes e consequentemente na tomada de decisões e de controle do exercício do poder.
Na defesa da continuidade e dos seus interesses, a elite da situação ou da oposição não confia e tão pouco respeita a Democracia ou o interesse dos seus cidadãos.
Contrariamente, essas elites tratam os seus povos como porcos, concordando com o filósofo Orson Scott Card, que afirmara: “Se os porcos pudessem votar, o homem com o balde de comida seria eleito sempre, não importa quantos porcos ele já tenha abatido no recinto ao lado”.
No entanto, a democracia orientada é acima de tudo executada através de um(a) “candidato(a) da direcção”.
O “candidato da direcção” é aquela pessoa cuja selecção ou escolha é feita nos bastidores das elites, sendo indicada a dedo e com todas as garantias para ganhar eleições fraudulentas.
Naturalmente, os outros candidatos, sendo membros da organização, também reúnem os requisitos necessários à presidência, e adicionalmente, tendo pretensões de implementação de mudanças que alteram radicalmente o modo de actuação actual; A diferença é que o “candidato da direcção” é a continuidade dos interesses e a marionete que dança a música da direcção cessante.
Portanto, sob orientações não documentadas e jamais tornadas públicas e oficiais pela liderança cessante, o “candidato da direcção” tem a seu dispor toda a máquina e recursos extras da organização.
Para além dos meios materiais públicos, a direcção cessante ordena e orienta de forma coerciva e ameaçadora o proceder das estruturas, afastando quaisquer tipo de resistências tendentes em contramão.
E neste processo ocorrem campanhas diabólicas, onde as pessoas são publicamente destratadas, difamadas, caluniadas, ridicularizadas e ostracizadas de ambientes que outrora eram de companheirismo, amizade e familiaridade.
A máquina não pára até a eleição do candidato da direcção e a parte mais dura ocorre na selecção de quem vai ao conclave ou congresso, onde as ameaças, perseguições e diabolizações assombram as mentes dos delegados.
Tudo isso, é porque a defesa da continuidade tem medo da mudança, e consequentemente, as eleições ou os congressos transformam-se em factores de grandes rupturas das organizações porque a violação da liberdade, justeza e transparência das pessoas e do processo democrático, inflige golpes duros aos que tombarem derrotadas pela “democracia orientada”.